Desistência da Humanidade

Hoje aprendi com um grande sábio sobre a "pequenez" da humanidade.Ele contava ao seu alunado as diferenças físicas,materiais e humilhantes que nos diferenciam como pessoas.Dentre esses aprendizes a "alguém",estava eu.Certa vez ele estava cuidando de uma emergência.Um soldado raso morava nos aredores do Rio Capibaribe, em uma minúscula casa com mais treze pessoas.A porta laranja de cor gasta se encontrava aberta,as paredes que antes poderiam ter sido azuis davam contorno a uma velha senhora que os esperava nostalgica,afinal,aquelas seriam as pessoas que talvez dessem um jeito a vida de seus queridos familiares,não a sua.Dentre os dentes que lhe sobraram todos estavam sujos como se nunca houvesse visto qualquer forma de higiene.Seu rosto era um misto de sujeira vinda da rio,falta de saneamento e rugas vindas da longa jornada de vida.

A assistente social que estava junto com o sábio acostumada com as arduras da vida de forma nenhuma se incomodou com o ambiente pouco próprio para qualquer ser humano mas,com ele aconteceu de forma diferente.Ele se sentiu desconfortável e invadido no forma daquela mulher mostrar afeição,ao mesmo tempo que sentia repulsa por tais sentimentos.Via o despontar de sua existência,afinal ele fora criado para que não sentisse nojo da diferença social mas sim que lutasse contra,fazendo disso uma forma de vida.Sentaram-se.Os móveis gastos pela maresia afetivamente limpos,um suco de goiaba a mesa.Esta foi a forma que a senhora e o soldado raso os receberam.Depois de uma desgastante conversa sobre o que estava ou não em suas mãos a assistente social e o sábio levantaram-se de forma a demonstrarem sua saída,agradecendo pela boa vontade.A senhora de forma tímida levantou para abraçar a assistente,que da mesma forma carinhosa retribuiu o abraço com um beijo na testa.Sim,aquela mesma testa suja e idosa de linhas atrás.

Chegando perto do sábio,antes mesmo de ter alguma ação ou reação ele lhe ergue a mão e termina a estada com um aperto.

Aquilo de certa forma enojo-o de si,de sua reação.Chegando ao carro a asssitente pergunta se havia algo errado,algo que o tivesse feito ficar estático.

Sua resposta: O que acontece minha querida é que aqui me encontro depois de tudo pelo que passei na minha vida,sempre lutando para mudar a cabeça e o pensamento retrogrado de todo um grupo de pessoas mas,o meu não.Acreditava que com meus ideais poderia ser capaz de tal coisa.Lá estava eu naquela casa simples mas como um coração de mãe que a todos cabia,repudiando tal atitude.Logo eu que sempre tive de tudo,ótima familia,otimos estudos,tive sorte com tudo e com isso deveria saber com olhar clinico ajudar alguém que diferente de mim não teve nada.Tive piedade e nojo,os piores sentimentos que se pode ter para com um semelhante.Agora estou aqui querendo voltar ao tempo para que da mesma forma da sua compaixão,não tivesse sido atingido pela frieza e ter dado aquela senhora o beijo de que lhe era digno.Arrependo-me amargamente.

Foi assim dessa forma que ele nos passou o momento de sua vida que o deixou com uma grande marca.Algo que em mim também deixou.Algo que devia deixar em todos Brasileiros ditos cidadãos.Algo que tenho certeza que se já não ocorreu,ocorrerá.Afinal ninguém é perfeito mas, também ninguém hoje mais se preocupa em tentar.

Georgia Cunha
Enviado por Georgia Cunha em 19/08/2008
Código do texto: T1135063
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