O Cometa Halley
O ano era 1986, quando se noticiava, com grande estardalhaço, a passagem do cometa Halley, um raro espetáculo no céu, pela sua grande luminosidade. Dizendo-se que a sua passagem pela órbita da terra só ocorria a cada 76 anos, pelo que só voltaria a aparecer no ano de 2062, despertava em todos o maior interesse em acompanhar todas as notícias sobre o cometa, como mês, dia e hora de sua passagem, a fim de que ninguém perdesse de ver aquele grandioso espetáculo. Alguns estudiosos já haviam dito até que o cometa Halley poderia ter sido a estrela que guiou os três Reis Magos para o local do nascimento de Cristo.
Por tudo isto, havia uma grande expectativa quanto ao dia de sua passagem, organizando-se alguns eventos para atrair as pessoas para um determinado lugar, de maneira que pudessem ver e comemorar aquele acontecimento. Em Traipu, às margens do São Francisco, na quadra da AABB, organizaram uma festinha intitulada de “O Baile do Halley”, que contou com a presença de grande parte da sociedade local.
A noite contava com o tempo bom, favorecendo a observação de qualquer astro celestial, assim como a estrelas que já brilhavam naquele céu límpido. Já era conhecido o horário em que o cometa apareceria com maior brilho e começava a contagem regressiva do tempo. Faltando alguns minutos para a hora em que se anunciava, tomei a iniciativa de ir ao microfone, sem que ninguém soubesse da minha intenção, e fiz um anúncio como se fosse real: “Senhoras e senhores, eis agora o momento mais esperado: acabo de entrar em contato com o Centro Aeroespacial de São José dos Campos que me informou precisamente a hora do grande espetáculo” E anunciei hora, minutos e segundos, pedindo que todos olhassem para o céu sem pestanejar, pois um simples piscar de olho poderia perder aquele espetáculo.
Pela minha credibilidade, muitas pessoas achavam que eu realmente havia me comunicado com São José dos Campos. Assim, a ansiedade aumentava ainda mais, inclusive para algumas pessoas que àquela hora estavam nas calçadas de suas casas e ouviram o anúncio, mesmo a uma razoável distância, em razão do silêncio que imperava na cidade. Era geral a expectativa criada em torno do acontecimento. Muitos diziam que queria ver a estrela que guiou os Reis Magos para Belém, até a manjedoura onde nasceu Jesus.
Passada a hora, que frustração! Ninguém viu o tão esperado cometa Halley. Pelo que foi noticiado nos jornais, rádio e televisão, além do ousado anúncio que partiu da quadra da AABB, realmente foi uma grande decepção. Com o olhar fixo para céu, procurando algum sinal diferente entre as estrelas, muita gente teve o pescoço enrijecido de tanto insistir na busca do astro que não apareceu. O baile que teve como tema o Cometa Halley tornou-se para muitos “O Baile da Enganação”. Só ficamos isentos da culpa porque o assunto era tema nacional. Toda a imprensa divulgava as notícias com a maior empolgação, visto que se previa algo extraordinário, que o cometa viesse com a toda a sua luminosidade, com a sua cauda resplandecente, com o brilho maior do que a lua. Era assim o que diziam sobre o cometa fujão. Aos nossos contemporâneos nem podemos convidar para a próxima passagem do cometa, mas para os mais jovens ainda há uma esperança de que no ano 2062 ele apareça da forma como foi descrita pela imprensa no ano de 1986. Com certeza não estarei presente ao “Baile do Halley” para anunciar a hora, minutos e segundos de sua aparição no céu de Traipu, a inesquecível “Princesinha do São Francisco”.