O Disco Voador
Ainda hoje, quando alguém diz ter visto um disco voador, dificilmente alguém vai acreditar. Entretanto, na minha concepção de criança, vi realmente um disco voador, a uma pequena distância, capaz de afirmar não ter sido nenhum engano. Na época, não havia o celular nem a câmara digital para que eu pudesse comprovar, mediante algumas imagens. Tinha como testemunha do fato os meus irmãos menores, que me ajudaram na descrição do objeto voador. Até então só conhecíamos, de longe, os aviões de pequeno porte que pousavam em Petrolândia. Subíamos numa árvore próxima de casa, uma caraibeira de boa altura, para vermos os aviões aterrissarem no pequeno campo de pouso, onde a poeira levantava tanto no pouso quanto na decolagem, pois ainda não havia o asfalto. Era também nessa árvore que subíamos para ver a chegada do trem, conhecido como Maria Fumaça, visto que funcionava a lenha. O nosso ouvido estava acostumado a ouvir apenas zoada de aviões, de trem ou de caminhões, mesmo a certa distância.
Agora uma zoada diferente, aproximando cada vez mais de nós. Corremos em direção ao rio e vimos aquele objeto estranho que sobrevoava as águas, numa proximidade tal que provocava um assanhamento, formando maretas no rio. Não tínhamos medo do que via, até por falta de noção de objetos extraterrestres. Sabíamos apenas que existia um tal de disco voador. Pelas narrativas até então ouvidas, estávamos realmente diante de um deles. O disco rodava em cima e atrás um disco menor em posição diferente, ou seja, um na horizontal e outro na vertical. Na frente uma bola de vidro transparente, que nos permitia ver os dois extraterrestres sentados. Admirados com o que víamos, ficávamos fazendo algumas comparações sobre as semelhanças. Queríamos fazer uma boa descrição ou narrativa do que tínhamos visto para que os adultos pudessem confirmar se realmente era um disco voador. O meu irmão mais novo, pela sua maior ingenuidade, disse que parecia com “a capanga do Sulino”, numa referência a um bornal de couro usado a tiracolo por um senhor de nome Sulino. Estávamos ávidos para contar a alguém aquele grande acontecimento que presenciamos, ali bem pertinho, na beira do rio. É comum a gente achar que o mais velho sempre sabe mais. Embora ainda não adulto, escolhemos o nosso irmão, que já tinha andado por Paulo Afonso, com maior possibilidade de já ter visto algo parecido. Pela nossa descrição, facilmente ele deu o nome daquele objeto voador: um helicóptero. Naquela época, era o meio de transporte utilizado para fazer as inspeções nas linhas de transmissão da CHESF, para detectar as eventuais quedas de fios, pois ainda não havia as centrais elétricas computadorizadas que hoje detectam o local do defeito.
Para nós, ficou aquela primeira imagem do helicóptero como sendo um disco voador. Se disco é algo que roda, e o bicho tinha logo dois, estava na cara que se tratava de um disco voador. Esta passagem na minha vida de criança ajudou-me a compreender melhor o que se passa numa mente em formação. Segundo o psicólogo Joseph Murphy, a mente é uma só, dividida em duas fases ou funções distintas. A mente objetiva e a mente subjetiva. A objetiva toma conhecimento do mundo exterior através dos cinco sentidos. Através deles somos influenciados pelas coisas que nos rodeiam, pelo nosso ambiente. Aquele era o nosso mundo, a nossa percepção transformou um helicóptero em disco voador.