Uma gota do meu veneno
Falar sobre mim sem ocultar certas verdades é sem dúvida uma tarefa de muita empresa. Mas como não custa tentar, vou tentar resumir brevemente algumas características interessantes sobre a minha pessoa.
Acho que se eu pudesse sair do meu corpo sem deixar de existir, me sentiria atraido por mim mesmo como numa espécie de campo gravitacional, não acho que isso seja ego inflado ou coisa do tipo, talvez esta seja a única maneira que encontrei para explicar a admiração que sinto por eu mesmo.
Gostaria de poder me explicar a ponto de atrair os olhares das pessoas para mim, porém não emprego tempo para isso. Sou do tipo que sai à noite para beber e fica encostado em um canto vendo os outros dançarem e beijarem. Pode parecer cafona, mas eu sempre imaginei acontecendo comigo alguma daquelas cenas de filmes americanos em que uma pessoa se aproxima de outra pessoa desconhecida, começam uma conversa, descobrem que têm muitas coisas em comum e se tornam almas gêmeas. Sei que estou jogando na defensiva, mas esse é o meu estilo e eu gosto dele.
É uma pena que os introspectivos sejam tão invisíveis aos olhos da maioria. Imagine quantos passaram por este mundo sem deixar rastros, quanta coisa se perdeu, quantos gênios, quantos artistas.
Isto não é um desabafo nem tão pouco uma lamentação, não quero agradar ninguém e não faço nada para aparecer, faço as coisas do meu jeito, do jeito que acho correto. Quando escrevo estabeleço contato direto do cérebro com a língua, não me baseio em gramáticas, para falar a verdade, eu nem sei para quê serve a gramática, afinal eu não conheço nenhum gramático que seja bom escritor e se Camões escreveu "ingrês" e "frecha" n'Os Lusíadas, quem sou eu para corrigir alguém e quem é você para me corrigir? Um dia escutei alguém dizer:" O pensamento voa enquanto a mão se arrasta".
Gosto de ler, não tenho autores favoritos e não quero me prender a nenhuma escola literária, não gosto de rótulos. Gosto de adentrar o mundo dos livros e não tenho vergonha de dizer que chorei lendo "Os Miseráveis".
Não gosto do Capitalismo mas não tenho nenhuma solução para expor, critico a política a esmo e sei que só isso não adianta nada, por isso estou aprendendo a falar apenas o necessário
Gosto de escutar bandas do tipo "The Sisters of Mercy", adoro os acordes sombrios e tristes. Acho que de certa forma sou bem sombrio, mas sombrio da minha maneira, não preciso usar um sobretudo preto em pleno sol do meio dia, como fazem muitos que se dizem góticos aqui na minha cidade.
Não me faço de depressivo e nem corto os pulsos com gilete para bancar o Ian Curtis do pedaço como fazia a minha ex namorada. Ao invés disso, prefiro permanecer vivo tomar cerveja, beber Coca- Cola, escrever, beijar, ouvir músicam, conversar, dar risada, assistir a um bom filme, comer pizza e mais um zilhão de coisas que eu poderia citar.