Edmir Domingues

O poeta brasileiro Edmir Domingues da Silva nasceu em 8 de junho de 1927, na cidade do Recife, Pernambuco, de uma família pobre. Sua infância, vivida em ambiente urbano, marcou-se mais de invenções do que de realidades. Voltou-se, ainda menino, para dentro de si mesmo ou para viagens apenas imaginadas, impregnando sua poesia de caráter essencialmente intimista. Começou a escrever poemas desde menino, quando aprendeu a escrever.
Bom desenhista, financiou grande parte de seus estudos - estudante pobre que era - com o dinheiro que ganhava fazendo ilustrações para revistas, gráficos de produção para indústrias e slides para propaganda em cinema.
Em 1946 entrou para a Faculdade de Direito do Recife, tendo como colegas os teatrólogos Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho, o romancista e pintor Gastão de Holanda, e outros que depois se projetaram na Literatura e na Cultura pernambucanas e brasileiras.
Ainda em 1946, no primeiro ano de Direito, ganhou seu primeiro prêmio literário, num concurso de sonetos promovido pelo Diretório Acadêmico da faculdade.
Em 1949 fez concurso para preenchimento de vaga no Tribunal Regional Eleitoral, obtendo o primeiro lugar. Ali trabalhou até sua aposentadoria.
Em 1950, concluindo o curso de bacharelado, começou a advogar, o que fez até pouco antes de seu falecimento, em 01 de abril de 2001.
Em 1952 publicou “A Rua do Vento Norte”.
Fez, ainda, doutoramento em Direito e o curso de Filosofia, todos os dois iniciados em 1952.
Em 1954 concorreu a três prêmios literários, laureando-se em todos eles: o Prêmio Vânia Souto Carvalho, no Recife, em que empatou com Carlos Pena Filho, e o Prêmio Mário de Andrade, em São Paulo, ambos com o livro “Corcel de Espuma”, e o Prêmio Aristides Casado, do IPASE, com o poema “Balada onde se conta do desaparecimento intempestivo dos Cavalos de Infância”.

“Os nossos cavalos brancos
de sete palmos de altura
os nossos cavalos negros
que triste encanto os levou?
Rói-nos a mágoa ficada,
maior que as mágoas antigas,
que os nossos cavalos baios,
de sete palmos de altura
ai, seriam nossas pernas
na viagem de amanhã.

....

Tudo o que resta de Infância
no resto de vida nosso
faz-se no instante presente
de indescritível cuidado,
apuremos os ouvidos
pela espessura do espaço
para o tinido dos cascos
que noutro campo se escuta.
....”

Em 1958, juntamente com outros intelectuais pernambucanos, fundou a seção pernambucana da União Brasileira de Escritores - UBE, onde compôs a primeira diretoria, juntamente com Paulo Cavalcanti, Carlos Moreira, Carlos Pena Filho, Audálio Alves, Cézario de Melo, Renato Carneiro Campos, César Leal, Lucilo Varejão Filho, Olímpio Bonald Neto, José Gonçalves de Oliveira, Jefferson Ferreira Lima, Clóvis Melo e Abelardo da Hora.
Em 1972 publicou o livro “Cidade Submersa e outros poemas”, quando ganhou o Prêmio Manuel Bandeira, do Estado de Pernambuco, e Othon Bezerra de Melo, da Academia Pernambucana de Letras.
Publicou, ainda, “O domador de palavras” e, em 1996, “Universo Fechado ou O Construtor de Catedrais”, onde reuniu a maior parte de sua obra poética.
Em 1999 gravou o CD “Edmir Domingues - Voz e Poesia”, onde ele mesmo declamava seus poemas.
Poeta intimista, que vivia à espera de sua morte, assim se expressou em vários de seus poemas, entre eles se destacando a “Sextina da Vida Breve”, poema este que recebeu inúmeros elogios da classe literária e foi inspiração para muitos outros poemas de outros poetas.

“Em dia destes dias (muito breve)
partirei sem remorso desta vida.
Quem sentir minha falta seja forte.
Sei que a terra em meu peito será leve
se pesada me soube a dura lida
e quem viveu no bem não teme a morte.

...

Possa eu seguir no barco da alma leve
ganho o óbolo em suor, preço da lida.
(Não dure a travessia, seja breve).
Um copo cheio de bebida forte
ajudará a olhar de frente a Morte
como ajudou a olhar de frete a Vida.
...”

Era cultor dos poemas de forma fixa, destacando-se nas sextinas e nos sonetos, sendo considerado um dos grandes sonetistas brasileiros, autor também da coroa de sonetos “Com o Estranho Pulsar da Estrela Morta”, fixado que era na estrela Aldebarã, a conhecida estrela vermelha da constelação do Touro.
Para Edmir Domingues, a poesia, obrigatoriamente, tinha de ser enxuta, “sem cavilhas para atender a forma, sem adjetivos ou advérbios, senão os estritamente necessários”.
Sempre que encontrava um amigo, Edmir se despedia como se soubesse que nunca voltaria a vê-lo; e ainda aproveitava para recriminar seu insensato coração – que, segundo ele, não agüentaria muito tempo mais. Como ocorreu. Faleceu no dia 01/04/2001, aos 73 anos.
O trabalho do poeta já mereceu um livro de ensaios, de autoria de Mário Márcio de Almeida Santos, da Academia Pernambucana de Letras, com o título A Grande Poesia de Edmir Domingues. Na obra, o autor define como clássicos e fundamentais os poemas de Edmir e define sua poética da seguinte forma:
“A dificuldade para quem tenta interpretar a poesia de Edmir Domingues é a de que não se trata de uma poesia ‘fácil’. O leitor atento e superficial quase nunca alcança o sentido do autor de Universo Fechado, o qual nos leva sempre às perseguições profundas e de extremo rigor de estruturação em suas composições”.
Dias após sua morte, a pedido do sonetista Waldemar Lopes, que faria uma coletânea de poemas inspirado no poeta recentemente falecido, compus o soneto

A tua vida breve

Abre os olhos, poeta! É dia ainda!
Abre as portas do céu, vem nos saudar.
Não é hora nem vez de nos deixar.
Abre os olhos e vê que a vida é linda!

Essa vida, que é breve e logo finda,
é só parte de nós. Mas o pensar
do poeta há de ser teu avatar.
Desce logo! Esperamos tua vinda.

O teu barco da morte andou veloz
e tirou o teu sopro de existência,
o teu corpo perdeu seu palpitar.

Mas ficou teu espírito entre nós
a mostrar como é pura incongruência
um poeta morrer, partir, findar...