Biografia
Me chamo Troya o poeta
Sou filho de Santa Cruz
Venho da chama e da luz
Assim tracei minha meta
Versejo na linha reta
Sou formado pela roça
Sou matuto da mão grossa
Minha caneta é a enxada
Meu caviá é coalhada
E meu bangalô a palhoça.
Eu nasci nesta cidade
E no passado fui embora
O presente me trouxe agora
Pra um futuro sem saudade
Aqui eu fico a vontade
Lembro cada travessura
Qual jovem não fez loucura
Fui doce, amargo e traquino
Tudo eu fiz quando menino
Na inocência mais pura.
Hoje passando os quarenta
Tenho trinta de repente
Desde cedo no batente
Sou cascavel, saramanta
Sou ribanceira que espanta
Coqueiro, tamiarana
Juazeiro, jitirana
Eu sou capão, sou capote
Sou água fria no pote
Lampião e Cajarana.
Sou Camarão, sou Cascudo
Sou Teodorico, Burica
Maracujá, Vila Rica
Xareu, peixinho, veludo
Selo, texto, conteúdo
Sou trova de Riachão
Sou Aderaldo, Cancão
Dona Bia curandeira
Militana romanceira
Sou Crisanto e sou Gastão.
Eu sou a voz do vem-vem
Sou assobio de mocó
Baioneta, caritó
Sou pardal, Pinto, xerém
Sou fulozinha também
Sou o nordestino forte
A religião, o suporte
Nutrindo a fé do romeiro
Sou peregrino estradeiro
Do Juazeiro do Norte.
Sou Pipa, Genipabu
Areia Branca, Natal
Mossoró, Umarizal
Sou Redinha, Cunhaú
Ponta Negra, Muriú
Eu sou Parelha, Sargi
Sou Extremoz, Pirangi
Sou Tibau, Praia do Forte
Eu sou Caiçara do Norte
Jacumã e Pitangui.
Sou Trairi, sou Agreste
Mandacaru, barbatão
Sou Vitalino, Azulão
O Santo Arco Celeste
Eu sou o cabra da peste
Otacílio, Catingueira
Sou Fabião, Zé Limeira
Louro Branco sondoroso
Vila Nova, Zé Cardoso
Sou Romano do Texeira.
Sou as coisas do Sertão
As belezas do Nordeste
Caatinga que reveste
A coruja, o gavião
Sou landuá, matulão
A viola e seus temores
O baião, seus cantadores
Sou a casaca de couro
João de barro, besouro
Sou o Pajeú das flores.
Troya D'Souza