Sou um estranho no ninho,
uma flor que carrega espinhos,
mas guarda perfume na alma.
Minha voz é a do coração,
que dedica ao amor o que pode,
e aos eternos amores o que sobra.
Minha vida é substantivo,
mas meu querer é pura poesia.
Estou onde minha alma dança,
e, às vezes, meu corpo também.
Imagino o que é belo,
moldo imagens em mensagens,
como um oleiro das palavras.
Quando quero, é querer de maré alta:
paciente e avassalador,
sabendo que o Divino
escreve meu destino primeiro.
Erro, confesso:
planto sementes que florescem,
mas, às vezes, serpentes
que me mordem sem clemência.
Mesmo assim,
não escravizo ninguém
nem me alegro no mal.
Amo o cheiro da terra,
o toque quente do sol na pele,
e as ruas que me deixam andar descalço.
Gosto de me perder no mundo,
mas me encontrar em mim mesmo.
E, embora ame o simples,
sei vestir com elegância
as culpas que me cabem.
Assim sou:
um compasso entre o espinho e o destino,
um viajante no campo do querer,
um florir constante,
mesmo em meio às pedras.