I
Em um, nove, cinco, um
No Rio Grande do Norte
Num desses dias de sorte
Foi dado à luz mais um
E não veio "qualquer um"
Nascia Paulo Gilberto
Que chorou de peito aberto
Depois que uma parteira
À sua família inteira
Mostrou o bebê esperto
Esperto no bom sentido
Por nascer de olho aberto
Num tempo em que decerto
Isso era proibido
Ele não fez alarido
Chorou o suficiente
E foi dormir, docemente
Nos braços da sua mãe
Que viraria Mamãe
Em poucos meses à frente
Aos nove meses, falava
Conforme a genitora
E a avó, professora
Que, orgulhosa, informava
Que o menino caminhava
Quando tinha só um ano
Era um pequeno cigano
Em suas idas e vindas
Que todos achavam lindas
Porque atrás dum bichano
Aos cinco anos de idade
E neto de professora
Era, claro, promissora
Sua escolaridade
Tinha força de vontade
Para aprender a ler
A contar e escrever
Então, foi muito normal
Que o curso ginasial
Aos dez fosse ele fazer
Para não encompridar
Tornar maçante a leitura
Porque não há criatura
Que goste de empregar
Seu tempo a apreciar
Algo que, possivelmente
Pode não ser atraente
Vai subtotalizar
P'ra qualquer dia voltar
A escrever, novamente
II
Mudar-se p'ra Caicó
No lar do biografado
Passou a ser cogitado
Em Jardim do Seridó
E o roçado de mocó [algodão]
Que "seu" Chico [pai] cultivava
O momento o obrigava
A deixar como lembrança
Novos ventos de esperança
A família experimentava
Para ajudar na despesa
O menino trabalhava
Na escola onde estudava
E ruas da redondeza
Sobre uma pequena mesa
Expunha de tudo um pouco
Mas a cocada de coco
Era o que mais vendia
Tinha que ter, todo dia
E não se fazia pouco
Ginasial concluído
Foi a contabilidade
A nova realidade
Do curso médio escolhido
Paulo havia decidido
Que seria empregado
Em concurso, aprovado
E partiu p'ra aquela luta
Para encarar a disputa
Aos "amigos" nivelado
Com seus dezenove anos
Havia sido aprovado
Em concurso realizado
Para emprego dos seus planos
Nele, passou trinta anos
Desde quando empossado
Até ser aposentado
Por haver contribuído
Durante o tempo exigido
Para ser desobrigado
Hoje, o biografado
Tem o ócio merecido
Legalmente permitido
Com seu tempo empregado
Em lembranças do passado,
No hábito da leitura,
A fazer literatura,
Com o foco no cordel,
Esperando que p'ro céu
Vá a sua alma pura.
Fim
e-mail: pegemorais@yahoo.com.br
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