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Considero que vida é uma consequência da criação, mas viver, no sentido mais elevado da palavra, é uma obrigação diante das leis universais.

"Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. / Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente."
(Extraído de TRADUZIR-SE, de Ferreira Goulart)
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Entendendo minha prosa poética:

Eu já li, timidamente, alguns poetas.
Reconheço que poucos, mas li.
Uns, abandonei logo, entediado,
Ainda na primeira estrofe.
Outros, muito me agradaram,
Estimulavam-me a leitura.

Li um pouco de Fernando Pessoa,
Amei Álvaro de Campos com Tabacaria:
"Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido."

Fascinaram-me, aqueles versos.
Li dois ou três de Florbela Espanca;
Não gostei da moça de Vila Viçosa.
Gonçalves Dias só me enfadou,
Detestei Tomaz Antônio Gonzaga e
Ler Camões, ainda não ousei.

Mas eu vivia sempre encantado,
Pois vivia entre muitos poetas:
Seis ao todo, para o meu fascínio,
Que emprestavam seus nomes
Às humildes ruas do meu bairro.
Ruas encantadas, de saibro batido.

Raul de Leone com Sei de Tudo,
Júlio Dinis com Similia Similibus,
Rodolfo Teófilo com História de um Átomo,
Bernardino Lopes com Berço,
José Albano com Esparsa e
Btista Cepelos com Ecce Homo.

Esses, para mim, queridos poetas,
(Os que gostei e também os outros),
Permitiram-me ter um diferente olhar
Sobre as incertezas da vida futura.
Deram-me sensibilidade e sutileza;
Enfim, mostraram-me a poesia.

(POETAS, de Luiz Vila Flor - num outono qualquer da década de sessenta)