VERSO ÁFONO

Tão cedo as letras vieram a mim!

Ensinaram-me a voar noutra dimensão,

e nelas calvaguei sobre sentimentos

munida de sílabas fônicas...que gritavam a minha voz.

Ensinaram-me a exorcizar meu coração do que doía...

-mas que eu ainda não sabia-

ser nuanças dum amor recém chegado.

E outros vieram...sem que eu me desse conta,

porque cada amor chega diferente... sem se anunciar.

E desapercebidamente se vai...como o vento que sopra invisivelmente.

Palavras se desabrochavam

Lanças dum coração, que eu também não conhecia.

Mas elas estavam lá- letras- ícones dos sentimentos!

Vieram-me trazidas pela brisa macia da manhã,

que sopra a ilusão dos primeiros anos frescos e dourados.

Saborosas letras, que as versejei uma a uma

pois na vida acreditei que a poesia tudo devolveria a mim.

O Amor já não é realidade-é mero verso- áfono de saudade.

Já não exorcizo meu coração... que hoje conheço bem,

posto que ninguém esvazia o que está vazio...

Ainda que gritasse versos... ninguém os ouviria...

Porque agora, minhas letras são áfonas,

-Como a vida que vem e que passa-

Sem dizer sequer meia palavra.