[Memórias do chalé amarelo – Araguari-MG]
Frágil e linda menininha de ar brejeiro
que saltita miúdos passos de canarinho
em meu vetusto e umbroso jardim —,
aonde me levam as tuas perninhas franzinas?!
E a sonoridade dos teus tamanquinhos
que me acorda luminosas lembranças da infância —,
será que também faz palpitar o coração
de um menino que te espera junto a um muro?
Eu me lembro... A flor que prendi nos cabelos dela,
ainda despenteados na manhãzinha sonolenta —
será também uma flor ganhada do teu amor
esta que agora vejo em teus cabelos?
Eu me lembro... A pontinha do seu vestido
torcida miudinha na ansiosa espera de mim,
e os olhos brilhantes da alegria de me ver surgir —,
terão os teus olhos, a tua face o mesmo brilho?
Será, menininha, que tu também esperas ele acordar,
e correr para o encontro de todas as manhãs,
naquele canto do muro do fundo do quintal,
onde um pedaço da velha taipa se desmoronou?
Ah, linda menininha, a ti que não te chamas Neusinha,
conto aonde me levaram os teus passinhos canoros:
ao antigo chalé amarelo do menino Carlinhos,
onde havia uma certa pedra de olhar o mundo...
[Penas do Desterro, 6 de setembro de 1999]
[Do meu livrinho “Arribadas, O Passo da Volta”]