Pai ama mesmo quando pisa na bola (2013)

Pai ama mesmo quando pisa na bola

Filho, certo dia você pediu e eu não tinha, lembra?

Depois disso, confesso que tive e não te dei. E foram tantas as vezes que tive, mas em todas elas, mesmo me lembrando do pedido, ignorei tua vontade e por isso você nunca teve... quero dizer, você nunca teve a partir de mim.

Soube, agora, já muitos anos depois, que você conseguiu, mesmo sem minha ajuda; desconfio inclusive que, para isso, você tenha feito lá seus malabarismos. Talvez eu nem os aprovasse, não é mesmo?

Pois é. Eu também soube que você sequer deu importância à conquista. Até me condeno levemente: você pediu porque precisava de algo vindo de mim... não se tratava apenas de ter; tratava-se — isso sim! — de ter a partir de mim.

Olha, filho, Deus também tem feito muito isso comigo. Eu já pedi muito. Pedi do simples ao complexo; do pouco ao muito; do grande ao pequeno; do útil ao fútil; do sagrado ao profano; do belo ao feio...

E foi exatamente assim que Ele se comportou. Talvez, lá nas primeiras vezes, Ele nem tivesse mesmo. Mas ando bastante convencido que, mais cedo ou mais tarde, tudo se acalmou lá pra bandas do céu e Ele teve, lembrou que eu pedira, até foi 'tentado' a atender-me, mas... bom, você sabe: preferiu esperar e me dar forças pra eu ir atrás, conseguir meio às tontas. Pois é, era Ele me dando a chance de concluir que nem tudo o que eu cobicei era tão importante quanto eu imaginara.

Tá vendo só?

Nada disso quer dizer grande coisa, sabe? Não significa que, graças a isso, eu tenha sido maior nem menor, mais feliz ou menos feliz. Na verdade, eu penso que tudo isso serviu apenas pra eu ver que nem Deus — que eu e você consideramos o grande Pai — tem o direito de nos tirar a chance de conquistar.

Às vezes cansa e enche o saco essa história de ir à luta, quando seria tão mais fácil receber de mão beijada, não é mesmo?

Mas é exatamente aí que está a diferença entre os que buscam e os que esperam.

Por isso, meu menino, eu, o teu pai — e o nosso Pai — temos feito de tudo pra ver você jogando no time dos que buscam, muito embora não haja nada errado com aqueles que esperam. O bom nisso tudo é que os do nosso time podem transitar livremente nas duas categorias: nada melhor que ir à busca, mas tendo como plano B a certeza de que, cansando, o melhor mesmo é esperar, é não perder a esperança.

Será que você me entendeu?

Bem, se entendeu, então fica mais fácil perdoar minhas pisadas de bola; se não entendeu, então perdoa assim mesmo, porque pai às vezes precisa de compreensão e tolerância... porque pai ama mesmo quando não consegue fazer as vontades do filho.

Vai por mim... Ou então, espera pra ver, porque mais cedo ou mais tarde vai chegar a sua vez de tentar explicar coisas como essas. Nesse dia, talvez, fique mais fácil, bastando ter em mente o que acabei de te dizer:

"Perdoa, porque pai às vezes precisa de compreensão e tolerância... porque pai ama mesmo quando não consegue fazer as vontades do filho!"