Se eu fosse o escritor que pensei ser, não hesitaria em escrever certas histórias. Até mesmo aquela do servidor braçal designado para o cemitério que, no final de mais uma sexta-feira, não pensou duas vezes: reabriu uma das covas daquele dia e, sem nenhum remorso, levou para casa o calçado novo que seu filho de 5 anos tanto lhe pedia.
"Meus quinhentos contos de salário não pagam nem o gás e o aluguel, porque é tanto desconto que não recebo nem trezentos e cincoenta... ainda mais depois desse infeliz empréstimo descontado na folha", explicou.
Se eu fosse o escritor que pensei ser, não hesitaria em escrever sobre a corrupção daqueles a quem ajudei a eleger.
Se eu fosse mesmo escritor, não hesitaria em fazer de minha palavra a espada pronta para apoiar e estimular aqueles que desejam justiça.
Ah! eu não perderia tanto tempo e energia e criatividade com supérfluos e frivolidades, se eu fosse mesmo escritor.
São Paulo, 21 de março de 2012 - 13h15