ORGANDI
(Sócrates Di Lima)
De Organdi transparente cubro a tua pele,
Em fios e fios de seda pura te alinho,
E sobre o corpo erupto meu desejo expele,
Frangäncias de amor no ninho.
Corre então os meus sentidos em veia,
Lava vulcânica se encachoeira ao amanhecer,
Lúdico e lírico meu corpo se incedeia,
Na libido em ëxtase, convulsivo me faz ser.
E na compulsividade me tomo em desalinho,
Faz minha imaginação sentir o que de algum lugar veio,
Saio de mim como quem sai um passarinho,
E voa longe e me transporta pra outro seio.
E o vento sopra sobre o corpo que desnuda,
Em véus de seda na transparëncia nua,
Se movimenta e se esguia em imagem muda,
Em " slow motion" passarela como a Lua.
Então meus olhos o organdi venera,
Por cobrir o corpo que abriga uma alma linda,
No deslize das sensações que não se pondera,
As loucuras de amor se fazem mais, ainda.
Desbranda o ser homem que se erupta,
Na vulcânica explosão do amor,
Em ëxtase o corpo se abrupta,
Se entrega ao desejo sem nenhum pudor.
Ah! Que venha o corpo por sobre o corpo insano,
Queimando em labaredas em fogueira de Sâo João,
Se desfazendo da seda no organdi humano,
Trazendo o corpo em chamas em provocação.
Corbertos então em véus de luxurias,
Corpos de amantes sedentos de amor e desejo,
Em silêncio se cobrem sem lamurias,
Com véus de organdi colados no beijo.;
Organdi
Organdi, do francës organdi, é a designação de um tecido originário de Urganje, região russa situada no antigo Turquistão, famosa na Idade Média por seu mercado de seda. Na lingua portuguësa, passou a denominar uma espécie de musselina, um tecido transparente, mais consistente que a seda, mas igualmente leve, e com um preparo especial, um acabamento engomado que lhe confere uma certa consistência.
O musseline é purgado para retirar toda a goma, e somente depois é tingido enquanto o organdi perde na purga somente 10% da goma (tinto em cru), dai se explica o toque engomado que ele possui.~
Este tipo de tecido é referido na cantiga de Paulo de Carvalho "A Nini dos meus 15 anos", no conto de Manuel Bandeira "Tragédia brasileira", no samba de Noel Rosa "Cem mil réis" na música "Camisola do dia" de Herivelto Martins e na poesia Organdi de Sócrates Di Lima.