O MEDO DO DIA SEGUINTE

Publicado por: Manuel Marques
Data: 03/06/2007
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O MEDO DO DIA SEGUINTE

Sempre quis começar o dia com algum tipo de felicidade

viajar pelas ruas sujas de seringas usadas à tua procura

caída nalgum canto à procura de uma morte rápida, menos indolor

que a vida gasta. mas segui sempre indiferente ao destino

e à entrada do teu pesadelo virava sempre as costas, cobarde, longe

da consciência, do sentido de dever, das constelações de merda e

da futilidade em que se havia tornado a vida das pessoas, seguia, ia.

E tu vendias os restos inglórios em que se havia tornado o teu corpo,

abandonado pela alma que já morava em mim e não te queria saber.

De qualquer forma uso as palavras e digo que sim, que tudo fiz

que tentei tudo o que podia por ti. e ao chegar à tua rua de amargura,

virei as costas, disse ao meu medo que não te conhecia

para não cair no saco roto das consciências imberbes, podres.

E um dia pus uma pedra no assunto, fiz de conta que não era nada o que nos unira e lá

apareceste numa página de jornal sensacionalista

como um peso de que a sociedade se livrara, virei a página e segui.

Quantas vezes se vira a página e se segue?

Como é fácil viver sem essa consternação,

ignorando a vida com a cabeça escondida na areia,

onde inúteis, nos refugiamos.

in o medo do dia seguinte, magna editora, 2007

Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 25/04/2007
Código do texto: T463869
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