Que idade você tem?
Já me disseram muitas vezes que eu não aparento a idade que tenho. Normalmente, respondo só com um sorriso.
Mas, às vezes, o interlocutor insiste e o jeito é dar crédito à genética, que me deu uma pele boa, ao riso que me acompanha ou ao pouco sol que tomei nessa vida.
É a face mais fácil da resposta e eu a uso sem pudor, por preguiça de explicar. A verdade inteira fica guardada com as mesmas convicções que me fazem não desistir de escolher sorvetes pela cor, de gostar de ler poesia em voz alta e só escrever quando as palavras começam a rodar em volta de mim.
Tem dia que acordo neném e nem ligo... me enrolo em feto e deixo a manhã me ninar. Tem hora que me permito velha e vejo cética.... Aí, antes que doa, rodo o olho no azul e deixo a luz entrar pela retina, direto, até a alma. Suspiro e solto a menina. Criança, sorrio confiante e crio. Em um minuto, mulher, resolvo, faço, organizo, desorganizo, desfaço, sinto... Dispersa, intercalo a menina com a mulher, sem precisar, sem querer, sem poder... sem saber ou simplesmente por ser.
Eu é que tenho a idade, não é a idade que me tem.
(Esse texto faz parte de um Conjunto de Contos e Textos que eu chamei de Meia Vida em Quatro Atos. Este está com outros textos no Terceiro Ato... "Senhoras e Senhores com Vocês a Mulher" - 2009)