Sexo!!!

Sexo!!!
 
Hoje, não quero te falar de amor. Não! Deixemos o amor por aí, como nossas roupas que formaram esse rastro de despudor que ficou ali para trás. Este é um momento de desferir franquezas até destruir todas as barreiras. Nada, entretanto, de olho no olho, porque difícil é mantê-los abertos. Menos ainda, pode se falar em cara a cara, por que os corpos se contorcem num balé nada sincronizado, mas que busca a simetria de outras partes de nós. E nossa nudez não denuncia nem se envergonha das formas que desobedecem e subvertem as duras regras que os tolos ditam. Por contraditório que possa parecer, os corpos não são os protagonistas desta pantomima de luxúria. As almas é que se apresentam e querem, na ânsia de se amalgamarem, romper seus invólucros. As bocas sugam-se na permuta dos espíritos. As peles se atritam para que o fogo que nos aquece possa trocar de lugar e, assim, se transfere, poro a poro.  Essa volúpia que eriça pêlos e engasga vozes provoca que as adormecidas fontes de gozo se deleitem e passem a jorrar os fluídos em que a lascívia se liquefez. Cabelos se enroscam, dentes e carnes se encontram pelas curvas dos descaminhos, pelas frestas dos labirintos, pelos vãos que se esquivam em vão. Inevitável, agora, que haja invasão e que os prazeres se agasalhem; e em meio a um indecifrável fremir explodimos um no outro. Sobramos nós esparramados na desorientação do prazer consumado. Isso tudo é belo! Isso tudo é doce! Mas, hoje, não quero te falar de amor; porém eu o acuso solenemente de nos ter aprisionado; eu em ti, tu em mim; até nos arrastar para cá.  Por tão sublime delito, que seja ele condenado ao confinamento eterno em nossos corações.  

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