Imaginei encontrá-lo em Istambul. Os olhos seriam azuis. A voz mansa e ao mesmo tempo, grave. E uma calma de fazer minha alma cantar tola em estado de graça.
Sem avisar, você surgiu fulminante e tão calado. Teu silêncio era música. Não estávamos no Expresso Oriente, mas ainda assim, poderia jurar ter embarcado naquele trem. Nossas mochilas ali, no canto, surradas na mesma medida, trocaram os laços. Há tantos nós em nós...
A fragilidade daquele instante lembrava linhas pontilhadas. Quis perguntar se também via um mapa mundi à nossa frente. Em que ponto cruzaríamos nossos passos? O destino já estaria escrito? E se a vida me devolvesse ao cais deste sonho novamente sozinha? Minha alma ficaria à deriva como a cenografia de um apartamento vazio em Paris? Ao fundo, ouviria tango? Seria o último?
Derradeiro ou não, teu corpo parecia imã. Algumas vezes pedi desculpas pela distância milimétrica que separava nossas roupas. Em outras, olhei tua boca para escutar o que não dizia. Você rabiscava um velho diário. Teu silêncio era cor. Meu traço é palavra.