Solitude
Meu peito é a pátria da frustração, onde um coração não viceja porque as emoções são áridas. É um lugar onde o clima se tornou inabitável de tanto ser invadido pelas ondas causticantes da falsidade.
Não conheci, nesta vida, senão vínculos parasitários. Gente que se oferece, se aninha e se adere para sugar o doce sumo da paixão inocente até secá-lo e, depois, jogar as sobras como entulhos inúteis em valas de indiferença.
Não concebo amor sem sacrifício; e sacrifício é dar de si além do que seria cômodo, acima do que seria justo, muito mais do que seria simplesmente razoável. Minhas paixões, portanto, não mediram riscos, não pesaram danos, não refugaram diante dos carmas alheios, assumidos como se meus fossem. Em troca recebi a banalidade do meramente possível.
Hoje meu leito é inóspito. O ar que aqui vagueia não tolera hálitos estranhos aos meus. Os sons que aqui se propagam não reverberam vozes que não sejam a minha. As formas que aqui se põem não passam de espectros, se não forem reflexos de minha própria imagem.
Houve quem quisesse – e ainda há quem queira – descobrir o que move a paixão dentro de mim. Mas fiquei duro demais! Não sei como confiar em mais alguém, porque nunca vi promessas de dedicação e entrega que não se transmutassem em sórdidos perjúrios.
A solidão é o sortilégio de quem se entrega ingenuamente ao egoísmo das falsas paixões alheias.