A te esperar calado

 

A te esperar calado



Inda ontem tu te achegaste de minha renitente quietude e bateste à porta de meu silêncio. E eu calado! Calado...

Insistente, arrombaste as trancas de meus pensamentos silentes, de minhas emoções sem voz. E eu calado! Calado...

Instalada no ambiente das não palavras provocaste o vazio que nada dizia tentando saciar tua curiosidade a respeito das cores escondidas por trás da mudez. E eu calado! Calado...

Inconformada que estavas, conclamaste uma atitude que declarasse algo que te desvendasse algum mistério. Mesmo desconfiado, balbuciei um lamento, solucei minhas dúvidas, pedi por socorro. E então, quem calou foi tu. Pedi uma bóia que me resgatasse dos mares da angústia e tu me lançaste uma âncora de silêncio. Nada disseste, pois nada tinhas a dizer. Só te interessava saber o que me calava e não participar do que eu, até então, não te dizia. E ali tu ficaste calada! Calada...

Adormeceste em silêncio e eu continuei no mar revolto de uma insônia de impasses. Tua voz, calada! Teu corpo, calado! A noite, calada! E eu sem ter a quem dizer o que agora queria gritar.

Tombei exausto de tanto engolir minhas verdades órfãs de ouvintes. Despertei de ressaca depois de me embriagar tomando lágrimas tão amargas. Ao meu lado, não estavas; foste cuidar de urgências fúteis. Minha lágrima, como sempre, ficou adiada para um momento que nunca se revelará propício.

Em breve tornarás e, mais uma vez, teu espanto tentará revolver o repouso de minha voz. Porém, desta vez – e de agora em diante – não mais cairei no engodo de teu interesse estéril. Cá estou a te esperar calado! Calado...


                                               .oOo.