Nós em mim Às vezes, vejo luzes no fim do túnel e até me animo. Entretanto, quando noto que estou olhando para cima, percebo estar, na verdade, no fundo do poço. Outras vezes, me encho de coragem, estufo o peito e resolvo que é hora de dar um passo adiante. Contudo, quando pressinto a vertigem, noto estar, na verdade, na beira do abismo. Ando meio entojado de mim. O que outrora já foi original em minhas idéias agora é uma esquizofrênica cantilena de mesmices. O maldito espelho continua me ofendendo com suas verdades indisfarçáveis. O travesseiro, conselheiro fiel de anos e anos, mostrou-se um tratante de marca maior, porque durante o dia ele assiste em silêncio o resultado dos tropeços a que me induziu durante a noite. Há muito por desatar, porém é desestimulante a vastidão de nós em mim. Eu e eu disputando espaço enquanto eu, impassível, não aparto nem dou a luta por encerrada. Muitos eus! Ainda é preciso desintoxicar alguns resíduos que persistem em contaminar minha vida. Sobram muitos eles indiferentes, há uma invasão de elas ausentes; faltam vocês demais... Vós sem voz! Estou farto de nós em mim!