TIVE UM SONHO...
Tive um sonho.
Não um sonho nosso,
em aberto,
de cada dia
que nos dá hoje
a esperança
no amanhã...
Não!...
Um sonho dormido,
fechado nas sombras
da inconsciência do sono.
Sonhei uma noite
(vida...)
garrida,
divertida,
desprendida,
desinibida...
Num passo obscuro desse sonho
(vida...)
encontrei a imagem do Demo,
difusa, incerta,
em perfil delineado
a tentação e desvio.
A um passo
-de nítido alcance-,
à lucidez da vida
(sonho...),
distingui a imagem de Deus...
Os olhos a cores,
talvez de um azul,
de transparência cristal
e luz de espectro
impressionantemente real.
E nessa impressão do sonho
(vida...),
marcou-me, indelével,
uma força maior,
arrancada de mim
pelo poder inconsciente
que nos traça o querer.
Olhei-O nos olhos
a fundo e firmeza.
Questionei-O de frente,
a desafio e certeza:
-Se me criaste,
Deus,
se de Ti sou filha,
se sou inocente
de original vontade,
Deus,
que és meu por nascimento
e a quem sou fiel por berço,
obriga-Te o dever de me cuidar,
de me proteger, de me amar,
de me defender, de me perdoar,
de me saber, de me guiar,
de me reger, de me salvar!...
...
Os Seus olhos
(talvez azuis...)
sustentaram a força,
a cobrança, que os meus
(talvez verdes...)
faiscaram na opacidade do sono...
E esse instante,
o impacto desse instante,
fez a diferença de um patamar,
um agá,
um elo de amor ágape,
um nível de imponderável valia:
Não estava mais em transe de sono,
mas amparada no sonho
(vida...)...
(juro, foi um sonho que eu tive. Um destes dias (noites...) da Vida...)