O SONHO DA MUDANÇA

O SONHO DA MUDANÇA

“O caminho do risco é o sucesso”. (Raul Seixas).

“Nunca deixe de sonhar...”. (Fábio Jr.).

Um dia, há muito tempo atrás,

eu tive um sonho, por demais

estranho.... Eu estava em uma floresta,

eu era uma árvore e testemunhei a meta

de uma dupla de engajados amigos,

empenhados em vencer os inimigos.

Um amigo estava calado, colérico.

O outro, com sensato teor dialético,

tentava acalmá-lo, falando nuns planos

revolucionários para conter os insanos

algozes da justiça que invertiam valores,

calavam as vozes e produziam as dores

nas pessoas de bem... Enquanto um amigo

ponderado condenava o desencanto antigo,

o outro, calado, escutava...Havia um perigo

de ambos serem descobertos ali, no abrigo,

da sombra dos meus galhos... Só um falou

dos planos para conter os atalhos, explicou

que a mudança ocorreria na hora correta...

O outro amigo, apenas, escutou a meta

da proposta de mudança... Eu, também,

numa estranha condição de árvore, sem

saber como, escutei toda conversa

e tentarei transmitir o que interessa.

Eis, aliás, o que foi um monólogo,

já que um falava

e o outro, como já disse no prólogo,

apenas escutava:

Pois é, meu amigo...

Está tudo invertido...

Vê o silêncio, escuta a luz,

aterrissa no ar, voa no chão,

bebe a comida, come a água,

calça a camisa, veste o sapato,

declama o discurso, pronuncia o poema,

faz tudo errado e vencerás, com certeza...

Pois é, amigo, quem fez o certo

foi crucificado. Mas, Ele vive (lembra disso)

e permanece do nosso lado...

Se os valores estão invertidos,

inverte os teus, também...

Convive com os filisteus.

Rima, se quiseres rimar,

exploração com fato comum...

Viu como rimou?

Conhece o que é certo,

porém faz tudo errado,

diante de quem inverte os fatos...

Confunde os maus, convive com os bons.

Diante daqueles passa por tolo.

Diante desses, ensina-os a não serem

sinceros a ponto de sucumbirem

à falsidade contemporânea...

Sobrevive, meu amigo, sobrevive...

É isso mesmo, sobrevive,

para que, unido aos teus semelhantes,

faças prevalecer o correto,

sem crucificar o pecado alheio...

Senão, serias como os hipócritas:

juízes e carrascos das condutas corretas,

consideradas “politicamente erradas”

ou “ pecadoras”, pelo atual reinado de mentiras.

Caminha para trás e, por outro caminho,

chegarás lá adiante... Não pára se não quiseres

ser atropelado pela multidão

que já vem na contra-mão...

Tem cuidado, amigo... Recua um pouco

para avançar depois... Tudo haverá de mudar!

Não deixa que ninguém te crucifique,

não dá motivo... Lá vem eles, lá vem eles...

Não esquece de agir errado

e de falar bobagens alienadas,

diante deles, e permanecerás vivo,

para que possas vir a ser um autor

e uma testemunha da mudança necessária...

Pois é, amigo, faz com que isso se torne aquilo,

mas não agora... Haverá tempo...

Lá vem eles, lá vem eles...

Não te arrisca... Não te arrisca...

Não deixa que te crucifiquem.

Disfarça, sorri...Sei da tua revolta.

Ela é minha, também... E será sublimada

para explodir no dia da grande mudança

que estamos planejando...

Sei que és um guerreiro. Esconde a tua força.

Eles são muitos, eles são muitos...

És muito útil vivo. Não deixa que desconfiem

dos nossos planos... Lá vem eles, lá vem eles...

Não deixa que te crucifiquem...

Passa por tolo, passa por tolo...

Lá vem eles, lá vem eles...

Não adiantou o aconselhamento

do amigo ponderado ao violento.

Ele, enfim, partiu para briga, na hora errada.

E, assim, levou foi uma porção de pancada.

Mesmo sem querer, o amigo dele lutou, também.

Porém, o poder do inimigo triunfou, e muito bem.

Ambos tiveram seus pés acorrentados.

E, nessa condição, foram ordenados

a cortar uma árvore que serviria

para os seus calvários. Eu seria

as cruzes daqueles dois revolucionários

que seriam crucificados pelos corsários.

Eles se recusaram a atender a ordem dos algozes.

E ventos chegaram nas árvores como umas vozes.

De súbito, vi que das árvores em torno de mim,

caiam uns frutos em forma de flechas e, assim,

tomei partido, atirei meus “frutos”,

batalhei contra a lei dos astutos.

Um a um, os inimigos foram derrotados.

Eu vi o fim do poderio dos empolgados.

Que alegria. Eu acordei relutante, sentido-me “frutificado”.

Naquele dia, eu trabalhei confiante e, também, fortificado,

para fazer com que o sonho da mudança fosse realizado.

Paulo Marcelo Braga

Belém, 17/02/2007

(08 horas e 40 minutos).