O vento forte anunciou a tempestade. Soprou o frio das montanhas geladas.
Arrancou folhas e embalou os sinos. Em rodamoinhos de poeira, cegou os andarilhos.
As roupas no varal pareciam criar vida e o ruído similar ao rugido dos felinos assustou os amantes.
O céu assumiu a escuridão e afugentou a tarde silenciosa.
Trovoadas, raios riscando o horizonte e os primeiros pingos de chuva.
Orquestrada em perfeito espetáculo, a natureza mais uma vez surpreendeu. A terra agradeceu, exalando o cheiro gostoso de planta molhada, enquanto as crianças espiavam ansiosas.
Estio. Pelas ruas, a molecada em algazarra pisoteou a lama, chapinhou pelas poças das calçadas, as bicicletas derrapando no chão molhado em tombos inevitáveis.
Da janela do quarto assisti à brincadeira, meninos e meninas rindo para o sol, cantavam versos:- sol e chuva casamento de viúva, chuva e sol casamento de espanhol...
Cortinas abertas, renovando o ar viciado e triste. A solidão deslizou pelas sombras e perdeu-se em um bueiro qualquer. Já foi tarde.
revisado por Sonia Claro