PERSPECTIVAS DUMA SEARA AO VENTO

Às vezes dizem-me que sou forte!

Que sou heroína, que provo fel,

o transformo em mel,

saio ferida,

lambo as feridas,

enfrento vendavais,

saio ilesa,

sem ais...

E ainda me sobra riso,

para musicar momentos

que roubo aos lamentos...

Mas eu sei quão fraca sou!

Sei que a dor me magoa

e que a tristeza mina abismos em mim.

Sei que as forças faltam,

que, tantas vezes, só finjo querer,

quando só fugir eu quero...

Sei que engano o tempo,

deixando que ele me engane a mim...

Sei que sou balanço de haste de trigo,

que se dobra ao vento, em seara alheia...

Sei que não atino com o meu caminho,

porque cedo ao Destino...

Às vezes chamam-me fraca...

Que não honro a condição,

que traio a emancipação,

que não ouso lidar espadas,

que me escondo em fachadas

de hipocrisia e perdão!

(Mas só eu sei...)

E levo,

carrego a Vida,

caio, ergo-me de seguida,

dou a mão a quem me pisa,

dou amor a quem precisa,

dou calor a quem tirita,

(se me deixa a intenção!...)

com o olhar acendo o lume

que pretende ser salvação!

Dou um riso,

pois preciso

esconder de quem me precisa,

as lágrimas do desespero...

E espero,

vivo e agradeço

as benesses que mereço...

Sei que sou forte, afinal!