Ontem, na rua, a caminho do Banco do Brasil, para resolver o problema de um cheque meu clonado e 'redesenhado' em valor inacreditável, ia pensando que sou um ser de sonho. Só amo sonhar, tão somente no sonho sinto que existo. Talvez pense, algum leitor: Pudera! Num mundo como esse, de pesadelo,a qualquer humano que ainda se preze a si próprio, só lhe resta mesmo refugiar-se no sonho; segundos me dirão: filie-se a alguma Ong, vá fazer algo prático, para melhorar este mundo de pesadelo; terceiros ainda, engajados politicamente, afirmarão:entre para algum partido político, cujo ideário corresponda a seus anseios de justiça social; e quartos : torne-se um anarquista militante, nos subterrâneos deste mundo, que o verdadeiro anarquismo é o caminho; quintos me aconselharão a entrar para alguma comunidade esotérica, na qual se guardem as chaves ocultas do 3° Milênio; sextos,aconselharão: faça sexo, sexo, sexo, apesar dos interditos, nem que seja por telefone, nem que seja tudo virtual; sétimos se calarão comigo, sem palavras para dizer; oitavos, talvez na tentativa de me mostrarem algum caminho qualquer de caminhar, darão início a um discurso que não consigo imaginar por onde se inicie; nonos leitores, categóricos: Mate-se. E décimos, bem...décimos pertencem ao território dos absolutamente insondáveis, pertencem ao território dos que sabem e se calam, porque sabem, como o Cristo se calou quando lhe perguntaram: O que é a Verdade?
Só amo sonhar, tão somente no sonho existo. A chamada vida real apenas me acontece na periferia do Sonho, centro da cidade em que nasci, cidade de mesmo nome, cidade em cuja periferia vivo, desde a primeira respiração e para sempre. Irremediavelmente.
São Paulo, 12 de julho de 2008 ( o parágrafo final deste texto é de 25 de março de 1994).
Zuleika dos Reis.