Ana: Estou perdida.
Rubem: Maravilhoso.
Ana: Maravilhoso?
Rubem: Maravilhoso.
Ana: Não.
Rubem: Sim.
Ana: Terrível.
Rubem: Não.
Ana: Medonho.
Rubem: Não.
Ana: O Vazio.
Rubem: Não.
Ana: Não?
Rubem: O Pleno.
Ana: Como?
Rubem:O Vazio-Pleno.
Ana: O pleno vazio.
Rubem: Apenas um bichinho assustado no centro da floresta.
Ana: Eu?
Rubem: Claro.
Ana: É brutal.
Rubem: O que é brutal?
Ana: A floresta.
Rubem: Por quê?
Ana: Demais.
Rubem: Brutal?
Ana: Sim.
Rubem: Fale mais.
Ana: Dela?
Rubem: Sim.
Ana: Falar o quê?
Rubem: Fale.
Ana: Estou sozinha nela.
Rubem: É isso?
Ana: Isso, o quê?
Rubem: O que é brutal?
Ana: Quê?
Rubem: O brutal.Estar sozinha nela?
Ana: É.
Rubem: Pensei que fosse ela a brutal.
Ana: Ela?
Rubem: A floresta. Pensei que fosse ela a brutal.
Ana: Ela também.
Rubem: Vocês duas?
Ana: Como?
Rubem: Tua floresta não é feminina?
Ana: Ah!
Rubem: O quê?
Ana: Nunca havia pensado nisso.
Rubem: Você disse:A floresta.
Ana: Floresta: gênero feminino.
Rubem: Só isso?
Ana: Não posso dizer: O floresta.
Rubem:Não?
Ana: Que me conste, não.
Rubem: Tanto assim?
Ana: Tanto assim?
Rubem: Se você fosse estrangeira...
Ana: Haverá país onde floresta seja masculino?
Rubem: Deve haver. Você nunca havia pensado nisso?
Ana: Nissos, você quer dizer.
Rubem: Nissos?
Ana: É, inventei neste instante.
Rubem: Por quê?
Ana: Porque são duas coisas em que eu não havia pensado.
Rubem: Quais?
Ana: Contrariando o artigo, a idéia de floresta sempre havia sido masculina para mim.
Rubem: Sim?
Ana: É diferente pensar na floresta como mulher.
Rubem: Diferente?
Ana: Sim.
Rubem: Por quê?
Ana: Mulher...como direi...é...
Rubem: O quê?
Ana: Menos perigosa.
Rubem: Menos?
Ana: É como estar abrigada no meu próprio seio.
Rubem: De mãe?
Ana: A floresta...mãe...Ei, espere!
Rubem:(...)
Ana: Eu...
Rubem: Complete.
Ana: Eu sou a floresta.
Rubem: Amor, que tal se a gente for agora tomar um expresso no Café Floresta?