Num dia qualquer...
Não quero querer, muito menos saber o que existe depois de cerrada a janela. O querer é uma coisa que impacienta quem fica do lado de dentro, e eu estou dentro, bem dentro, exatamente no centro dessa esfera onde tudo passa tangente. E agora sou eu, apenas eu e meu lábio branco, um lábio branco que solta o canto e beija os olhos da esperança, solto minhas tranças e vejo hélices que abanam cores e balançam violetas, amarílis, agapantos... estou no centro de um vergel onde mora o ser pirilampo e sou luciérnaga sob um luar de lanterna, e nem sei se é noite, se é dia, talvez uma tarde com muros de hera... mas o muro é branco, o lábio é branco e eu me entrego à fumaça que desenha elos de correntes que se entrelaçam e sobem, sobem, sobem e são nuvens, são cirros que cerram meus olhos que ardem garoa feita de areia e abro as mãos que acolhem grãos, minha porção, coração... estou dentro, bem dentro e aqui tudo bate... e quebram-se as horas, todas as datas e vergam-se as hastes, todos os cálices e estátuas pálidas com lábios brancos sussurram pétalas como te quero.