PRIMEIRO DIA DE JUNHO
( A lagarta se prepara para metamorfose)
Em minha cela, nasce um verso a cada amanhecer.
Uma asa de poesia em busca de outra asa...
Será tudo um enorme pesar?...
Um verso inacabado, um patético espetáculo
um sonho que ninguém sonhou?!
Quanto tempo se passou
desde a última primavera?
...a felicidade, grávida, pariu um sonho além do horizonte
por cima das nuvens do mais branco algodão...
Lavei os meus pés, lavei as minhas mãos, teci o véu que veste o meu corpo
enquanto as portas são lacradas, janelas são abertas e a história é embalada em papel colorido___ fino papel de balas.
Há um encontro, um renascer, uma renda de tramas e nós, e no coração de vidro
a alma reluz em miríades de estrelas - constelações - Orion, Pégasos, Leo, Scorpius...
...um fechar e abrir de olhos pelos corredores de minh'alma
e lá, bem longe, um jarro e sua única flor...
Duvidei dos deuses e dos poetas ,do visgo e da superfície da água.
Será que tudo é apenas um verso?!...
... perverso é o Tempo, ancião alquebrado inexorável aos pedidos e
transverso ao Amor...
Construí Mandalas de pedras e fios de sisal, mantive acesa a vela
e sua chama bailarina.
Ávida de versos, sangrei alegrias misturadas ao pó da terra.
Rezei um salmo a cada dia e tornarei a rezar
como se fosse uma coreografia - um eterno bailar
que me liberta e me guarda do fim do mundo.
...uma folha tingida de nanquim é o avesso de mim/ poesia que sou
na transparência de cada olhar...
As pedras sempre existirão, porque as serpentes precisam delas aveludas de calor e imóveis, quase fincadas no chão. Os sonhos arrefecem, os dias passam, as folhas caem sem que ninguém perceba. Os amores se despem, os olhares se ofuscam, eu rabisco a minha letra no meu pensamento, sou alheia, pressinto, rasgo, costuro as pequenas miçangas que vão enfeitar o meu testamento, eu bebo o meu destino como a lagarta que sabe da metamorfose iminente.
... o coração alado voa e desperta na soleira do amor, imóvel ao vento, calado, não sei como nomeá-lo. Perdi o meu endereço, mudei de lugar, estalou um sol no firmamento, um acaso, um desatento pensar. Olho à minha volta, não estou só, há tanto pulsar e o que há de ser antes do recomeço?!...
Um amor quase perfeito, as poucas verdades, as bocas miúdas, o apreço, o ferro quente marcando a pele (bezerros alardeantes) a verdade que eu conheço, a colombina, o poeta arfante, o braço e a razão - o eterno desejo nunca satisfeito. Uma maré lunar, um rio de lava, a paridez da semente, as deusas, o átrio e seu calor, as pedras fumegantes, o ferro fundido, a lâmina, o fio, o corte e o sangue vermelho____adocicado!
... asas! Asas e a utopia do voo. Nunca haverá outro voo igual, das poucas verdades que conheço, sei que o espelho dos meus versos é o alinhavo das minhas asas!
imagem: Google