EROS E THANATUS / CAMPO DE FLORES
Analisano o poema “CAMPO DE FLORES”do poeta Drummond, me atrevi a fazer uma síntese do mesmo no *redonde “EROS E THANATUS”. Omiti de propósito parte da pontuação. Do quinto ao nono verso, deixo ao leitor a liberdade de pontua-los de acordo com o “eu lírico” de cada um.
EROS E THANATUS - redonde
(Para "CAMPOS DE FLORES" de C. Drummond de Andrade)
Sinto a flecha do cupido
Por Thanatus disparada!
Depois de desiludido
Quando mais nada esperava,
Sinto de novo o amor...
Se morrer, será sem dor
Envolto em doce libido
Nos braços de minha amada
Sinto a flecha do cupido
Por Thanatus disparada.
(Francisco de Assis Góis)
CAMPO DE FLORES
Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus – ou foi talvez o Diabo – deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.
Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.
Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.
Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram em mim,
o sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.
E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.
Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.
Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
à visão extasiada.
Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.
(Carlos Drummond de Andrade)
*Redonde é um estilo poético criado por Francisco de Assis Góis.
Conheça a sua teoria literária seguindo o link abaixo:
https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/7124216
Ouça as declamações dos poemas na página de audio.
“COMENTÁRIOS”
Campo de Flores foi composto em 1951 na fase do não ou fase do "eu igual ao mundo" de Drumond (1950-1962), constituída por uma poesia mais metafísica, reflexiva e pessimista, na qual se observa um grande desencanto político, que afasta o poeta do engajamento social, abordando temas como morte e vida, infância e velhice, amor e tempo.
...Acredito que Drummond quando diz: "Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos e outros acrescento aos que amor já criou. Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou", esteja se referindo ao mito de Thanatus, o deus da morte que, achava, estaria a sua procura, e quando atirou sua flecha usou sem saber uma daquelas que o cupido, sem querer, misturou com as suas quando adormeceu na caverna. É o mesmo que eu digo ao afirmar que mesmo tendo sido flechado pelo deus da morte Thanatus, a flecha é de Eros, o deus do amor. Isso posto, os poemas afirmam que a morte não existe para quem ama. "Para fora do tempo arrasto meus despojos e estou vivo na luz que baixa e me confunde".
Foi isso que tentei passar através dessa síntese contida nos dez versos do “redonde Eros e Thanatus”, como também acredito que Drummond o tenha feito em seu poema Campo de Flores. Esse poema de Drummond é demais! Cada vez que o leio descubro mais coisas belas ocultas em sua simbologia e metáforas que, a meu ver, passavam pela cabeça do gênio Drummond.
(Francisco de Assis Gois)
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Sinto-me grato e honrado com a linda interação em redonde da poetisa Esther Lessa.
VIVER E NÃO MORRER DE AMOR
JUSTAMENTE OH, FRANCISCO!
PELO QUE DISSE DRUMMOND
DELE O POEMA CONFISCO
DANDO A ELE O MEU TOM
IMPROVÁVEIS NASCEM AS FLORES
SOMOS NÓS COMPOSITORES
AGARRAR O AMOR ARISCO
POR ELE MANTER O SOM
JUSTAMENTE ,OH, FRANCISCO!
PELO QUE DISSE DRUMMOND
(Esther Lessa)
Sinto-me grato e honrado com belíssima interação do poeta Miguel Jacó.
Deus me deu um amor tardio
Me debochou ou foi omisso
Quando não tinha mais viço
Ele antão me contemplou
Eu coletei outras flores
Mas nem uma com este aroma
Os contornos desta dona
Me remetem ao meu início
Deus me deu um amor tardio
Me debochou ou foi omisso
(Miguel jacó)
Sinto-me grato e honrado com o magnífico comentário e interpretação da poetisa e escritora Iolandinha Pinheiro.
A flecha do cupido, sim, mas disparada por Thanatus, que representa a morte. Interessante visão que considera o amor como uma espécie de morte. A morte do Eu para se transformar em nós. A morte do ser sozinho para o ser casal, o ser duplo, finalmente completo na experiência do amor que vive, que o reviveu da solidão. Muito bonito, profundo e filosófico. Adoro mitologia então estar lendo seus versos com este tema tem sido um enorme deleite.
(Iolandinha Pinheiro)
Sinto-me grato e honrado com a belíssima interação do poeta Jacó Filho.
AMOR PRA MIM É ARTE
O cupido troca flecha
E amor pra mim é arte,
Só na poesia vi brecha,
Pra da vida, fazer parte.
Por meio século tentando,
Só vi o tempo passando.
Percebendo que tropeça,
Por mais que ele tentasse,
O cupido troca flecha
E amor pra mim é arte,
(Jacó Filho)
Sinto-me grato e honrado com a belíssima interação do poeta AJ DeAraujo.
AMOR E MORTE
O amor faz renascer
Traz esperança
Mesmo que no crepúsculo.
Tudo o que temos
É porque o merecemos.
(Gogyoshi por AJ DeAraujo, 8/11/2023)