amanheci debruçado sobre o meu poema
e quando ainda era noite, gélida, fria
sem moléstias, sem dores, sem dilema
bailava, só, ao som de uma doce melodia
flutuava em pensamentos, adornado de solidão
rodopiava, gesticulava, labiava o suave canto
adentrei-me e pude escutar o pulsar do meu coração
um momento de prazer, de puro encanto
e como num súbito, repentinamente...
a nostalgia tomou conta da minha noite
e me vi tão desprovido, tão carente
foi, então, que a lágrima rolou feito açoite
lembrei-me da tua boca, do teu sorriso
das tuas carícias que me cravavam de prazer
lembrei-me do teu corpo, meu eterno paraíso
me fiz poeta, abracei a caneta e comecei a escrever
enquanto eu aguardava o raiar do dia
os versos surgiam, as rimas afloravam
a friagem congelava a gota que dos meus olhos caía
as estrelas coruscantes se apagavam
mergulhado, eu, nas lembranças dolentes
construindo, assim, melancólica e triste poesia
vagando deste instante ao tempo de adolescente
tentando apagar com lágrimas o fogo que me ardia
no horizonte, desponta a beleza do arrebol
com frescor... empapado do aroma de alfazema
surgem, fulgentes, os primeiros raios de sol
e eu... amanheci debruçado em meu poema