Na hora transiente entre a aurora e o poente
Os pássaros cantam no jardim
A luz preenche o quarto mudo
Mas as trevas permanecem
Escondidas no canto escuro
Meio invisível, meio visível
Em inanimada suspensão
Uma forma de hibernação
Na transiente hora entre o poente e a aurora
As cobras serpenteiam no jardim
Devorando os ratos.
As flores se escondem
E parecem apenas mato
O quarto não está mais mudo
E o canto escuro não é mais um canto
Mas o próprio quarto
O que estava suspenso é continuado
O ser até então inanimado clama seus brados
Quando acordado pela hora
Anterior a aurora
As falsas luzes do dia anterior
São trevas com certo pudor
A serem manifestas pelo poente
Que em algum momento estará presente
Mas nem todas as luzes são falsas
Só todas as vês.