ANTIDIÁRIOS DE JUNHO I

I

— Retomo esta sina de dividir em versos os íntimos

dos dias multiplicados na ordem do relógio do vírus

que desmaia entre as covas. E há ainda os tais juízes

dos tribunais boquirrotos das redes que determinam

quem morre e quem vive… Quem fala e quem convive

com as glórias virtuais dos emojezinhos e das curtidas.

Continuo só no silêncio estrondoso de um poema vazio

que inaugura o junho de vinte infestado pela pandemia.

E no frio da noite alta separo o corpo pesado do espírito

e navego nos cirros amontoados deste outono esquisito.

Escrevo antidiários reincidentes e preparo um novo rodopio

que me livre da navalha dos martelos e me lance no infinito.