Não é apenas da ausência que surges
Quando a saudade te delata em meu olhar
Não é a tua falta que me faz pronunciar
As palavras que de ti nunca ouvi
Não é somente no ardor da memória
Que me tomas o pensar, a voz
E te deixas adormecer no leito
De todos os meus silêncios
Não é apenas na solitude que me vens
Quando sorris em meus lábios
E faz-te posseiro e senhor
Das minhas alegrias e anseios
Não é somente neste hiato
Entre a minha e a tua mão
Ou nesse tolo desencontro
Entre o meu caminho e teu destino
Que te revelas em meu peito
Para além de todas as palavras
Do enlevo jamais revelado
Da curva, onde se despede o mundo
Da soma de todas as certezas
Do respirar de qualquer eternidade
Sei-me infinitamente tua
Mesmo quando te retardas
Nestas tuas tantas demoras
Sem ainda saber que teu caminho
É aquele que te traz para mim...
© Fernanda Guimarães