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Cansei de tributar à vida, de pronunciá-la,
de vestir trapos de moleque envenenado
-pávido a tragar mais trevas que mel
do favo pútrido furtado.
Cessei de acreditar que a vida mexe na carne
invertebrada do pinheiro paralelo ao vendaval,
no pio desafinado do morcego espatifado no concreto,
no cetro (glória do rubi) que se deixa
liquidar no bazar aventureiro da calçada…
Agora sei! A Vida, da existência, nem é parente
por afinidade: então que fique ora e sempre relegada
em alta esfera, em pileque de alfaiate ultraterreno
ou em alva dignidade de deusa asteca -majestosa
caçadora de rãs e de mentiras. Talvez…
talvez a Vida só não zombe do partido dos iguais,
do êxtase do bobo e do poeta...
E seja para eles ferrugem de cometa
num vicejar demolido, delírio ocasional
de besta alada, faísca emocional
de compulsória e surpreendente
meta.
NOTA: Esse poema se encontra também no meu E-book intitulado: "Todos os Poemas" que pode ser baixado grátis na seção E-livros da minha escrivaninha.