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I
Remoto brilha o sol já quase frio
neste planeta longínquo de quem amo
e nunca brota caule, folha ou ramo
a mitigar um ar que não é pio.
O tempo aqui não falta -tenho de sobra-
e a rocha é abundante e colorida:
mesmo demore o resto dessa vida
completarei com afinco a justa obra.
Assim, titã que noite e dia te pensa,
com esforço pouco humano e mais dantesco
empurrarei os penedos cor do ouro
-bem ordenados na planície imensa-
formando um letreiro claro e gigantesco,
e tu lerás da Terra: EU TE ADORO.
II
Ela nem viu a mensagem que eu pari
ou a tratou pior que bugiganga:
-recebida qual tediosa propaganda
desprezada foi pra lata do gari.
Foi vexame empurrar tanto arenito
ante a cara zombeteira dum marciano
que com olhos marotos de tucano
ria de leve acerca desse rito.
Anoitece, e sob o céu desse planeta
é costume, espreitando um meteoro,
rogar um novo amor com uma prece:
-minha súplica já parte feito seta.
E o letreiro? Eu emendo o tal “te adoro”
e lá escrevo: VOCÊ NÃO ME MERECE!