Esta abominável felicidade subjugou-me, sou um ser cativo!
Esta paz, que abomino, deixou-me apático, insensível,
Minhas emoções estão equilibradas, nulas, fico, assim, inativo.
Já não uso mais a pena, descarto papéis, minha inutilidade é visível!
Ah, o amor! Busquei-o, a todo custo! De tão nobre, é tão raro, eu sei,
Mas, mesmo efêmero, inundava-me de ilusão, desilusão, dor e prazer sem fim.
Ao desfazer-se, o sofrimento instigava-me a novo amor buscar e pensei:
Aquietar-me é preciso, meu coração já não é tão jovem, é músculo e não marfim.
Assim o fiz e senti a mesma sensação que ao me aposentar: um vazio imenso!
Não suportava aquela paz profunda, meu espírito pacífico, emoção sufocada,
A alma contorcida, num furacão de sentimentos controversos. Contrassenso!
Se a isso sempre busquei e dediquei toda uma existência, que vida complicada!
Dormia, acordava, olhava ao redor, e pensava, onde estou, sem graça este mundo!
Meu peito arfava, mal respirava, engasgado com os versos que não exprimia.
Provocava-me inquietação, transbordava-me de excitação, sentia-me infecundo,
Como se a minh’ alma expandisse, já não cabia em mim, mas nenhum verso saia.
Olhei-a nos olhos, acariciei-lhe os cabelos, beijei-lhe a face, declarei-lhe o meu amor.
Mostrei-lhe a imensa dor ao partir, meu coração ficara, se salvar minh’ alma pudesse,
Ao menos um morto-vivo restaria de mim. Segui em frente, passos firmes sem temor,
A caminho, voltei a olhá-la, o sol reluzia em suas lágrimas, refleti: ela não merece!
Voltei ao meu mundo caótico, onde damos sentido ao que não tem sentido,
Transformamos o amor em dor, ilusão em desilusão, alegria em tristeza.
Saudades ainda sinto, mas ficar seria reprimir minhas emoções, viver contido,
Matar a poesia, que em mim arde como tocha, seria morrer em vida, com certeza!
Tudo que sempre busquei, estava a deixar. Oh, dúvida cruel! Por quê, por quê?
Só uma resposta encontrei, e me dedico a continuar fazendo o que sempre fiz.
E, além da finitude da vida, expandir a minha consciência em versos. Qual o quê!
Ainda em vida e por todo o universo. Assim, concluí: um poeta jamais poderá ser feliz!