ABOMINÁVEL FELICIDADE

Publicado por: Saavedra Valentim
Data: 28/04/2019
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

ABOMINÁVEL FELICIDADE Autor: Saavedra Valentim Locução, gravação e edição: Saavedra Valentim.
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.

ABOMINÁVEL FELICIDADE!

Esta abominável felicidade subjugou-me, sou um ser cativo!

Esta paz, que abomino, deixou-me apático, insensível,

Minhas emoções estão equilibradas, nulas, fico, assim, inativo.

Já não uso mais a pena, descarto papéis, minha inutilidade é visível!

 

Ah, o amor! Busquei-o, a todo custo! De tão nobre, é tão raro, eu sei,

Mas, mesmo efêmero, inundava-me de ilusão, desilusão, dor e prazer sem fim.

Ao desfazer-se, o sofrimento instigava-me a novo amor buscar e pensei:

Aquietar-me é preciso, meu coração já não é tão jovem, é músculo e não marfim.

 

Assim o fiz e senti a mesma sensação que ao me aposentar: um vazio imenso!

Não suportava aquela paz profunda, meu espírito pacífico, emoção sufocada,

A alma contorcida, num furacão de sentimentos controversos. Contrassenso!

Se a isso sempre busquei e dediquei toda uma existência, que vida complicada!

 

Dormia, acordava, olhava ao redor, e pensava, onde estou, sem graça este mundo!

Meu peito arfava, mal respirava, engasgado com os versos que não exprimia.

Provocava-me inquietação, transbordava-me de excitação, sentia-me infecundo,

Como se a minh’ alma expandisse, já não cabia em mim, mas nenhum verso saia.

 

Olhei-a nos olhos, acariciei-lhe os cabelos, beijei-lhe a face, declarei-lhe o meu amor.

Mostrei-lhe a imensa dor ao partir, meu coração ficara, se salvar minh’ alma pudesse,

Ao menos um morto-vivo restaria de mim. Segui em frente, passos firmes sem temor,

A caminho, voltei a olhá-la, o sol reluzia em suas lágrimas, refleti: ela não merece!

 

Voltei ao meu mundo caótico, onde damos sentido ao que não tem sentido,

Transformamos o amor em dor, ilusão em desilusão, alegria em tristeza.

Saudades ainda sinto, mas ficar seria reprimir minhas emoções, viver contido,

Matar a poesia, que em mim arde como tocha, seria morrer em vida, com certeza!

 

Tudo que sempre busquei, estava a deixar. Oh, dúvida cruel! Por quê, por quê?

Só uma resposta encontrei, e me dedico a continuar fazendo o que sempre fiz.

E, além da finitude da vida, expandir a minha consciência em versos. Qual o quê!

Ainda em vida e por todo o universo. Assim, concluí: um poeta jamais poderá ser feliz!

 

 

Saavedra Valentim
Enviado por Saavedra Valentim em 28/04/2019
Reeditado em 17/12/2023
Código do texto: T6634031
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