“No caminho da cidade
Meus olhos se rasgam na volúpia de amor.”
(Mário de Andrade)
Caminho luares,
Percorro pensamentos
E desenho mundos
Em um guardanapo.
Tomo um café,
Ouço música:
“L’homme au piano”,
Piaf, encanto.
Ouvir a cidade,
Cada som.
Ouvir os gestos,
Tocar o belo,
Angustiar-me.
Uma vez mais
Viver Sartre,
Viver Beckett,
Viver Monet.
Outra vez o real,
O peso de acordar.
Ah, Paris imaginária!
Quantas vezes te sonharam,
Os homens daqui?
Quanto eu mesmo
Quis ser outro?
Quanto quis ser teu...
Já são tantos os poemas
Feitos para ti,
Tantas vezes já cantaram
Tuas luzes.
E sei que a cidade
Em mim é mais bela,
Mais clara, mais plena,
Talvez um delírio;
Paris, Praga, Viena:
Cidades que eu amei,
Que a realidade usurpou
De minhas ambições.
Talvez nunca a veja,
A verdadeira.
Mas o que é a verdade,
Diante do sonho?
Sonho poesia,
Escrevo vidas.
Sonho luas,
Escrevo neons.
Sonho poetas,
Escrevo Rimbaud!
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