(...) O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente. (...)
Fernando Pessoa
*
[No banco das lágrimas de sangue]
Todos os dias despertava com a morte
no vale bendito dos mortos mais doloridos
Esta, era sua tática obsessiva e diária:
- Quando se vive morto quem poderá nos matar?
E acariciava os sepultados...
na falta, gritava com a dor...
sufoco ausente da respiração dos afogados
gemia com as juntas desgastadas
como as camas velhas do século passado
a mente era um abandonado hospital
cega, para a visão dos médicos nos corredores.
- Quando se vive morto quem poderá salvar?
Haveria algo a mais naquela solidão atroz,
dos ecos e nos ais...o que vale
além do ganho secundário...
no amar a dor...
naquele canto
a louvar um apelo de atenção
Ao abraçar a dor e a pobreza estando em Liberdade
no banco das lágrimas de sangue,
era o principal algoz.
Rosangela_Aliberti
São Paulo, 12.XI.07
Exercício de Oficina Poética
(Foto Pedro Moreira – olhares)