Uma das coisas que mais me deixa triste nesta vida
É ter que deixar ir aqueles que amamos
Deixar partir aqueles que são parte de nossas carnes
É vê-los sem folego
E enterra-los...
Dói... Mais dizem que a vida continua... Nua!
Na rua nada despista nossa loucura
Os carros passam, buzinam, aceleram
Os ossos cabideiros são iguais para todos...
Mais cadê seus rostos na minha memória...
Até quando se desfigurarão?
Tudo no meu peito se incinera
E cadê seus rostos na minha história?
Solitário é meu nó que me dilacera
Meu dia se eteceteriza e esfarela
Sinto pegadas já sentidas e percorridas por outras pessoas
Como lagrimas que desempedradas escoam
A vida passa como uma cera incinerante rasgando os Pirineus
Qual faca afiada quente passa na manteiga congelada
E hoje a caça sou eu
Sofrendo calado e imerso na lágrima da mulher amada
Que na cama fingindo-se de morta... Gemeu
Quem morrera na verdade fui eu
Eu que estava entre os mortos e não conseguia palpa-la
Num casulo adormecido
Meus olhos eram bolhas frias congeladas
Não orbitavam com os que me olhavam
Estava preso dentro de mim
Como num labirinto
Onde os sons e grunhidos eram abafados
Refogavam em brasa quente e eu sentia
Que estava distante deles
E quando mais tentava toca-los
Mais distante ficava
Um desconforto horrível
Uma viagem sem volta
Quase asfixiante
Exilio total
E eu
Como sal
Invisível na água
Morrendo
Sem ninguém
Um mar morto
Sem vida
Sem volta
Bilhete só de ida
Pra onde????
Quem se importa?
Onde fica onde?
É o bonde que leva
Todos aqueles que da gente se esconde
Dizem que lá tem uma passagem
Um túnel
Um rio que corre e um barqueiro que nos leva adiante
Mas, na verdade independendo de cor, credo e idade
De lá ninguém voltou pra mostrar onde fica esta cidade
Disque é preciso primeiro comprar a passagem
E diga-se de passagem
Não é a gente que compra
Temos só é que acompanhar a paisagem
Que volta e meia trás um bando e leva outros tantos
Pra essa tal de viagem...que não acaba nunca!
E tem viagem marcada em tudo que é canto...