Posseira
Quem será que nos chega de repente
e, sem pedir licença, vara a porta,
invade o nosso leito e nem se importa
se estamos disponíveis, simplesmente;
e traz a dor que o peito não comporta,
tornando a longa noite tão plangente,
e crava as suas unhas, inclemente,
em nossa flébil alma, quase morta?
Quem será que nos chega, qual posseira,
e finca seus esteios de aroeira,
e, sem pedir licença, nos invade?
Essa posseira que tem sede e fome,
que chega, sorrateira, e nos consome,
tu a conheces: chama-se Saudade.
Brasília, 18 de Maio de 2013.
Sonetos Diversos, pg. 96
Sonetos selecionados, pg. 35