RASGO PERDÕES
RASGO PERDÕES
Rasgo papeis já antigos, amarelados ao tempo,
Rasgo fotos sem sentido,
Revistas não vistas,
À minha vista, rasgo as roupas da moda - ocasião,
E verbos pra proferir palavrões à quem de mim discorda, eu rasgo.
E 'rasgo a seda' em séricos elogios à outrem, orgulhosos e fantasiosos.
As vezes não só rasgo, como sepulto alguns registros anais.
Rasgo tudo que já não me serve mais...
Só que eu tenho projetos de antemão,
Mas me rasgo de raiva ante a indecisão.
Que me corta a alma, e rasga meu peito.
E o peito que me rasga à dor do meu coração.
Só não rasgo dinheiro (porque já não o tenho),
Nem meus diplomas (já muito sem uso),
De certo mesmo, eu rasgo propósitos.
Porque talvez eu não queira mudar,
Deixar tudo como'stá. Tudo atado e consertado.
Sem rasgos, suturas, feridas ou buracos.
Então ato o meu próprio papel de ator.
E é porque tudo eu rasgo...
Até a antinomia e soberba dos meus acertos,
Eu engasgo... soluços...
Vejo que me falta é reestudar a sábia lição.
E dela, colar as peças desmontadas (rasgadas), como num jogo de quebra-cabeça.
E é porque até hoje me falta entender - entre rasgos - o conceito do perdão.
obs: melhor ler a poesia ao som de 'Andante Pour Trompette' (Saint Preux)