Posso poetar triste ou alegremente,
Escrever rimas raras ou usuais.
Esculpir imagem com olhar demente
Soltando pela boca fogos infernais.
Posso desenhar um anjo desnudo,
Um cavaleiro medieval de armadura,
A cabeça do tímido Cirano,
Ou estrelas brilhando na noite escura.
Só preciso da palavra a artimanha
Para empregá-la com habilidade,
Extraindo de sua força estranha
Toda seiva que exige a criatividade.
É como sovar a branca massa do pão,
Erguer as firmes paredes de uma casa,
É como sangue que agita o coração,
É como o sol que a terra abrasa.
A criação é atrevida, nada ela teme.
E por ser bacante de lautos festins
Rola em leitos, chora, sorri e geme.
Seus meios justificam os fins,
Porque depois da obra finalizada,
Sobe-me ao rosto o calor da emoção
Ao ver no papel exangue, aprisionada,
A fera em forma de versos ou dramalhão.
25/10/07.