Leitura de um poema no poente
Não, não... fui eu quem ocasionou a morte
do poema com um de meus olhos...
aquele, o de sapo-fêmea
ao admirar o pouso albatroz do inseto
de pernas longas sobre a rocha.
Tenho duas pupilas e lentes ajustáveis
com finalidades estéticas
doentias e até mesmo esportivas.
Troco as lentes de contato
todos os dias com devida assepsia
sobre as córneas uma informação
pode ter o brilho da lata e o valor do ouro...
Aos que não são tão tolos
a raiz da questão estava na repetição contínua
dos aplausos cegos
das Adas... adoráveis formidáveis inigualáveis
nos entos e na repercussão dos (H)ades
ável... ável... avél...
a ave Maria se transformou em César
ao ler o escrito sendo que não fora necessário
nenhum artifício.
A tonalidade da pena é dura e dura...
tristeza bem pior
que o calor da raiva junto a fria indiferença.
Não, não... fui eu quem assassinou o poema...
uma voz cometeu suicídio “ao lê-lo”
afogando-se no brejo das almas:
- Daí a Cesar o que é de César.
Rosangela_Aliberti
São Paulo, 23.X.07
Art by Tim Flach