À beira da loucura
Você dorme e percebe que não descansou,
Trabalha durante horas e o mês já passou.
Os olhos doem perante a violência das ruas
Invadindo sua mente, sua vida, sua paz,
Como um câncer que lhe fere cada vez mais,
Impregnado pelos roubos e falcatruas.
Mortes, armas, corrupção, tráfico. Tristeza...
E em tudo isso você indaga onde está a beleza
Dessas palavras que sujam esta poesia.
-- Está no desejo radical de mudança,
Algo urgente, que desequilibre a balança
Da justiça comprada pela burguesia.
Pois você perde a vida no tempo que passa,
Luta por seus direitos e o poder lhe ameaça
Enquanto cede para os ricos, privilégios.
E você, pobre e humilde, acaba condenado
Como bruxa, sofrendo no fogo do Estado,
Sendo inocente, acusado de sortilégios.
VOCÊ! Que escreve estes seus versos de revolta,
Palavras bandidas cercadas pela escolta
Da voz do povo que não pode se expressar!
Louco para que tudo exploda no plenário,
Que rege a impunidade e o maldito falsário
Que se apropria dos seus bens e vem lhe abraçar...
Sobrevivendo na terra da fantasia,
Onde tudo corre bem e é tudo folia,
Você ganha respeito ao tornar-se bandido.
E de terno e gravata ou de Bíblia na mão
Você rouba e mata, mas obtém seu perdão
Ao pagar seu dízimo e ter-se convertido.
À beira da loucura, falando sozinho
Na rua, com seu demônio amigo, seu padrinho
Que em seu casamento avisou: "Cara, ela é puta!",
Você vaga desesperado, na pobreza,
Depois da vaca roubar toda a sua riqueza
Após anos de sacrifício e muita luta.
E abaixo desse prédio ninguém acredita
Que você vai pular, sobre a câmera aflita
Da mídia sensacionalista atrás de audiência.
E você fere os valores da sociedade
Espalhando na calçada a crua e nua verdade
De ensanguentados fragmentos de sua demência.