A primeira vez que te escrevi

(e lá se foram 27 anos... Salve 20 de junho!)

A primeira vez que te escrevi

tive medo daquilo que senti:

era eu outra vez adolescente...

Onde foi que deixei minha eloqüência?

Veio aquele tremor da adolescência

e invadiu a minh’alma de repente...

Sabe quando a criança chora e ri?

Ou diz “sim porque sim”; “não porque não”?

- desse jeito fui eu, tal a emoção,

na primeira vez que te escrevi.

Eu me lembro do sol do fim do outono

que acordava a joaninha do seu sono

e enxugava o orvalho do gramado.

Eu me lembro da brisa, do jardim

e daquele vulcão brotando em mim

como lavas de um fogo imaculado!

Era um sol todo meu – eu, no abandono,

reclamava do frio da solidão;

eu queria acordar noutra estação...

Sim, me lembro: era o fim daquele outono.

Entre flores e odores de esperança

descobri com os olhos de criança

a emoção de viver e de sonhar.

Descobri que o amor é muito sábio:

é um mel que adocica os nossos lábios

e vicia pra sempre o paladar.

O meu peito, flechado pela lança

de um Cupido travesso e brincalhão,

vive agora seus dias de ilusão

entre flores e odores de esperança.

Era eu outra vez adolescente...

Outro eu! Outro eu... e de repente

ninguém mais, nada mais! Ali, a sós,

tudo à volta era um fundo de paisagem

e, no centro da cena, o personagem

principal do universo éramos nós.

Eras outra também. E frente a frente

convertíamos tudo em primavera.

Esquecemos o mundo: o mundo era

o playground de dois adolescentes.

Tive medo daquilo que sentia.

Era eu? Outro eu? – e de repente

todo aquele tremor de adolescente.

Na primeira vez que te escrevia

tive medo – por mim, por ti – por nós,

muito medo da minha própria voz.

Tive medo daquilo que eu dizia.

A emoção de viver e de sonhar

desafia o mais tolo e o mais sábio;

é um mel que, ao provar, adoça o lábio

e pra sempre vicia o paladar.

Era eu outro eu e fatalmente

a emoção que tomou conta da gente

de repente chegava pra ficar.

Era eu outra vez adolescente...

Eras outra também... E, de repente,

ninguém mais! Nada mais... Ali, a sós,

tudo à volta era um fundo de paisagem

e, no centro da cena, o personagem

principal do universo éramos nós.

Foi assim, de mãos dadas, unha e dente,

que enfrentamos as nossas próprias feras...

Finalmente provamos que não era

uma mera ilusão de adolescente.

Granja Viana, 16 de junho de 2016 – 11h40min – 27 anos depois...