Às cinco horas da tarde
Me deito na areia a pensar
Ao leve murmúrio das ondas
Não tenho ninguém para amar
O amor, que será isso
Que tantos dizem sentir
E bom, quente, gostoso
Penso que estão a mentir
Nisso saindo das águas
Linda o corpo molhado
Se encaminha para mim
E se deita ao meu lado
Julgo estar sonhando
Tão bela não pode existir
Olhos negros e profundos
Lábios sempre a sorrir
Me fitando com doçura
Se espreguiça indolente
Num gesto tão feminino
Céus! Como é atraente
Sinto então dentro do peito
Meu coração palpitando
E bom, quente, gostoso
Será o amor, fico pensando
Ao perguntar que queria
Seus olhos crisparam de dor
E disse com voz suave
Que procurava o amor
Agora nós nos beijamos
E eu sinto e ela sente
Que o amor tão procurado
Chegou assim, de repente
Mas logo ela se levanta
Adeus, põe-se a andar
Entra nas águas plácidas
E some no fundo do mar
E daquele amor tão puro
Restou para o meu coração
Após ela ir embora
Seu corpo marcado no chão.
Às cinco horas da tarde
Me deito na areia a pensar
Ao leve murmúrio das ondas
Não tenho ninguém para amar.