Olhai as nuvens negras
como fogem!
E o vento sibilante
emudeceu!
Já não treme de frio
o indigente,
e que azul tão brilhante
o azul do céu!
Do chão se eleva um bafo
de húmus
morno
cheirando à mais viril
fertilidade!
Além, no açude velho
na represa,
há segredos de amor
murmúreos leves!
Ressurge a Natureza
exuberante,
nos vales
nas campinas
nas alturas.
Regressam aos beirais
as andorinhas,
e os prados se matizam
de boninas.
Renasce a Natureza
e na minh'alma
surgem também
as flores da alegria,
das aves a sublime
vibração!
Há em mim rebentos de esperança
há risos
gargalhadas de criança
e um novo prado em flor de fantasia.
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Acordei.
Há muito é dia.
Afinal era um sonho
uma quimera.
E apesar de tudo
ai quem me dera
abrir de par em par
o coração
e encerrar nele
para sempre
a Primavera.
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Este poema foi escrito por mim quando
estava em África, no norte de Moçambique,
como militar, e foi publicado no boletim da
Companhia, "O Camuflado".
Só mais tarde veio a sair no meu
primeiro livro, "Descontinuidades".
Onde eu estava não havia Primavera
e eu sentia saudades...