Pousadia e "Summer of´ 42"

Pousadia

Não tenho meus...
Não quero teus...
Não quero me apossar de nada,
não quero ser dono de nada.
Não quero cobre nem prata.
Não quero ouro algum.
Sou leve,
o que levo me basta.
O amanhã deixemos pro amanhã.
Agora agora,
só preciso de noturnal pouso,
não é segura a escura estrada,
por isto à tua porta bato,
abrigas-me,
tua casa é grande,
tal qual firme e seguro porto.
Basta-me um canto para breve repouso.
E se quiseres
faças-me à noite o teu escolhido,
ao ouvir tu dizendo: vem...
Eu obediente
direi: vou...

Deitar-me-ei ao teu lado,
sentir-te-ei ao meu lado.
Serei então o teu varão,
o teu marido,
diligente
e venturoso consorte...
E tu serás a minha mulher então.
Saciarei o teu apetite
e tu saciarás o meu.
Preencherei a tua boca com a minha língua
e a tua língua matará a solidão da minha.
Dar-nos-emos todas as emoções,
sem tabu,
sem pudor,
sem dor,
em cor...
Far-me-ás o teu servo à cama,
invadirás o meu corpo com a tua voragem,
e far-me-ás homem,
o teu homem.
Invadirei o teu corpo com a minha coragem,
e far-te-ei mulher,
a minha mulher.
Passaremos a noite untados,
unidos.
 
E após saciar-te,
se quiseres me digas:
vai...
E eu irei.
Por ora fica assim:
quando a saudade falar e te perguntar:
“¿onde estará o selenita,
o viajor,
o teu leal e fiel campador?”
Procuras-me,
e encontrar-me-ás aí,
dentro de ti...
E quando eu te procurar,
encontrar-te-ei aqui,
dentro de mim...
Somos nós em nós...
jamais sós...
Bastará uma oração,
e eu então voltarei.
 
Aos outros,
de manhã,
à mesa,
ao desjejum,
digas somente:
“ele é apenas um conhecido,
um antigo amigo,
um viajante em viagem,
pela cidade em passagem,
de pousadia pedinte,
um incidental convidado.
Ontem ele bateu à porta
e me pediu abrigo,
e eu lhe disse: entra...
Hoje à madrugada,
 eu lhe disse: vá...
E ele se foi,
com a Lua e a Dalva,

antes do alvor,
sem nada levar,
em silêncio,
deixando um perfume pela casa,
um poema escrito num lenço
e uma encarnada flor.”
 
(“À “espera simplesmente”,
em “uma noite fria”,
“numa cama vazia”,
quando eu sentir falta
de um corpo junto ao meu,
de um aroma para eu inspirar,
de cavalgar à meia-noite,
sentir vontade de calor
e o desejo me pedir,
em surdina
eu lhe direi: volta,
e para mim ele voltará.
E se eu lhe disser: fica,
ele ficará.
Destarte fá-lo-ei meu homem,
meu servo
e meu senhor,
e por fim
não mais haverá adeus...”)

 
      Nesta poesia tive a experiência de escrever em duas vozes. Para ela eu fiz um áudio enriquecido pela música "Summer of´ 42". Convido os amigos e amigas a o ouvirem clicando aqui ou no link abaixo.
 

Cativantes Interações:

por Marlene Toledo

(em 30/10/15)
Meu coração é seletivo,
hospeda apenas pessoas que
têm franqueza nas palavras,
sutilezas nos gestos e
poesia no olhar.
Pode pousar...
repousar...
aportar...
reportar-me sua vida...
que neste coração terá sempre guarida.


(em 14/07/16)
Abrigo concedido...
com todos os meus sentidos...
"és meu amor...
meu homem escolhido"
Expressa-se assim...
um coração enternecido.



(obrigado, agora e sempre)

(Imagens obtidas da internet. Todos os créditos e agradecimentos aos seus croadores e proprietários)