(áudio na voz da autora) ESTRANGEIRO * É no desvão da noite Que teu olhar gondoleiro Me fita de soslaio, Entre a curva do travesseiro E a luz do abajur lacaio. Tem medo. Tem reservas. Prefere se imiscuir nas trevas A relevar o segredo. Minto que durmo, Finges que dormes. Escuto tua respiração, Escutas meu ressonar. Outrora alcoviteiro, Arqueiro, Baleeiro, Outrora companheiro, Hoje... trapaceiro! Nos vincos do lençol um vínculo: Uma rosa e um cravo, vermelhos. No quarto, um tempo suspenso. No dia, greve do sol. Quebro tua imagem no espelho Mas bordo teu nome num lenço. Pra que tantos conselhos, Se mansamente me convenço? Amor e amares Às vezes voam pelos ares, Às vezes se perdem pelos mares, Por vezes retomam seus pares. No teu coração bandoleiro Meu amor é estrangeiro. [No teu coração bandoleiro Meu amor, amor, é estrangeiro!]* republicação de 2006